Naquele país, os parlamentares funcionavam sem cabeça, e nem se davam conta disso. Os corpos moviam-se como se fossem dirigidos por uma central reflexiva e determinativa, no alto do pescoço, e tudo corria com normalidade - normalidade especial, não é preciso acrescentar.
Um dia, certo deputado reparou na falta de cabeça e sentiu-se constrangido. Já não fazia os gestos com a mesma perfeição, e experimentava o que se poderia chamar de dor de cabeça sem cabeça.
Convocou alguns colegas e mostrou-lhes que eles também precisavam recuperar o crânio perdido. Muita gente já observara o fenômeno e duvidava da legitimidade de representantes destituídos de parte do corpo tão importante como a cabeça.
Um dos colegas admitiu a lacuna de que padeciam todos, mas alvitrou que ela poderia ser corrigida com cabeças de papelão, que são mais leves.
- Nada disso - falou o que tivera a iniciativa de recolocação. - Temos de repor nossas cabeças verdadeiras.
Saíram à procura das ditas, e muitos não as encontraram. Outras tinham se convertido espontaneamente em cabeças de alfinete. Umas tantas conservavam-se intactas e foram correndo instalar-se nos pescoços de seus donos.
Mas o Governo, prevenido daquele movimento coçou a cabeça e decidiu:
- Isso é que não. Para recolocar a cabeça no lugar, precisa de autorização superior. E esta eu só dou lenta e gradualmente. pPrimeiro recoloque-se o queixo. Mais tarde a boca. E uma só orelha também. O tampo fica para o fim. Com o correr dos dias vocês verão cabeças ótimas, até com ideias próprias.
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